(sindicato dos inspetores do SEF)

Acácio Pereira: Discurso de abertura na conferência sobre "A nova arquitetura do Sistema de Segurança Interna"

2023-06-28 17:59:58

Ex.mo Senhor ministro da Administração Interna, Dr. José Luís Carneiro,

Ex. mo Senhor presidente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Prof. Ricardo Ramos Pinto,

Ex.mo Senhor Prof. Rui Pereira, ilustre coordenador científico destas conferências do nosso sindicado,

Ex.mos convidados e restantes oradores nesta conferência,

Meus caros colegas inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,

Minhas senhoras e meus senhores,

Quero, antes de mais, agradecer ao senhor ministro a honra – a elevada honra! – que dá a este sindicato com a sua presença e participação hoje, dia 23 de junho, “O Dia do SEF” – o dia que quisemos que fosse o da nossa conferência e congresso.


Mas quero, sobretudo, agradecer a honra que dá a estes inspetores que fizeram o melhor que sabiam e podiam para garantir a segurança nas fronteiras de Portugal e da União Europeia, para dar apoio e proteção às vítimas do tráfico de seres humanos e para combater as redes de criminalidade transnacional.

No mesmo passo, quero também agradecer ao Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, na pessoa do seu presidente – Prof. Ricardo Ramos Pinto – o acolhimento e o apoio que esta instituição académica sempre dispensou aos inspetores do SEF e ao seu sindicato. Bem haja!

Quando há um elefante na sala, o melhor é falar dele o mais rapidamente possível para ficarmos todos – inspetores e políticos – mais à vontade!

O SEF vai acabar – e Deus sabe o que nós, inspetores, este sindicato e eu próprio, fizemos para impedir que tal sucedesse...

Fizemos tudo no limite do possível para demonstrar que o interesse nacional ficaria melhor defendido com SEF, do que sem SEF.

A questão, no entanto, é que vivemos numa democracia e num Estado de Direito.
Estamos a caminho dos 50 anos do 25 de Abril e nunca será de mais lembrá-lo: vivemos numa democracia e num Estado de Direito – e ainda bem que vivemos!

Nesta democracia madura que já é a nossa, os eleitos do povo, os que foram escolhidos para ocupar os órgãos de soberania, os governantes e os deputados, escolheram acabar com o SEF.

O Governo propôs.
O Parlamento legislou.
E o Presidente promulgou.

Para quem é democrata e aprecia os estados de Direito, como nós, podemos ter pena... – mas não há mais conversa!

Dura lex, sed lex!
Ponto final, parágrafo.


O que é importante é o país.
O que é importante é o próprio processo democrático!
É a União Europeia.
São os cidadãos.
É o projeto europeu e o humanismo que este contém.

O importante é garantir que a imigração se faz em segurança!
Que as vítimas são protegidas.
Quer os criminosos são perseguidos e combatidos.

Ou seja – parafraseando o saudoso Presidente Jorge Sampaio – há mais vida para além da extinção do SEF!


O importante – e vou citar a senhora ministra Ana Catarina Mendes, a qual, por um impedimento de última hora, não pode estar aqui presente como estava previsto.
Escreveu a senhora ministra em artigo desta semana no jornal Público: o importante é que “Portugal seja hoje um país humanista, multicultural e tolerante”.

Isso é que é importante!

Tendo tudo isto presente, competia-nos, a nós inspetores, e também aos ministros do Governo de Portugal, encontrar a melhor maneira de colocar os atuais inspetores do SEF a servir Portugal e os portugueses no novo contexto criado pela Lei aprovada na Assembleia da República.

Em particular a nós, sindicato, competia-nos defender os direitos profissionais legítimos dos inspetores que, com tanto esforço e competência, serviram este país nas últimas décadas.

Foi o que tentámos fazer da melhor forma, colocando neste desafio o que de melhor soubemos e pudemos fazer.

A solução encontrada para a passagem dos inspetores do SEF para a Polícia Judiciária – e que está plasmada no Decreto-Lei nº 40/2023, de 2 de junho – não é perfeita.

Não é perfeita – mas, penso eu, é bastante satisfatória.

Defende bem o interesse do país!

É boa para a Polícia Judiciária!

E acautela os direitos e os interesses dos inspetores do SEF que vão agora abraçar um novo desafio profissional.

Para este resultado virtuoso, muito contribuíram vários protagonistas.
Permitam-me que destaque quatro:

• Em primeiro lugar, o senhor ministro da Administração Interna, Dr. José Luís Carneiro.
Nele reconhecemos uma notável capacidade política, sentido de Estado, bom senso e uma permanente preocupação com o bem comum.
Não concordámos com a missão que ele tinha para levar a cabo, mas reconhecemos-lhe seriedade, lealdade nas negociações e apego à palavra dada.

• Em segundo lugar, a senhora ministra da Justiça, Dra. Catarina Sarmento e Castro, que infelizmente também não está presente agora, mas estará no final da sessão.
Em todo o processo negocial de transferência dos inspetores do SEF para a Polícia Judiciária, a Senhora ministra defendeu exemplarmente os interesses da PJ e criou as condições necessárias para que esta pudesse acolher umas centenas de novas inspetoras e inspetores, em boas condições para todas as partes.

• Em terceiro lugar, o Senhor diretor Nacional da Polícia Judiciária, Dr. Luís Neves.
A sua atuação no sentido de receber, integrar e colocar a funcionar na Polícia Judiciária os profissionais que, até hoje, fazem parte da carreira no SEF, é um grande serviço que está a prestar à instituição que superiormente dirige e, sobretudo, ao país e aos portugueses.
Nos próximos tempos, vai passar a ser, para nós, “o nosso Diretor”!

• Em quarto lugar, mas não menos importante, o que é ainda “o nosso Diretor”, Dr. Fernando Pinheiro da Silva.
Nada fácil é a missão de dirigir, e de manter a funcionar em bom nível, uma instituição que tem a sua vida a prazo. Essa missão coube ao atual Diretor Nacional do SEF, que a tem desempenhado de forma digna e honrada que me cabe a mim, em nome do sindicato, reconhecer e sublinhar.

Assim sendo, quero aproveitar aquela que deve ser a minha última intervenção formal enquanto dirigente sindical para fazer um apelo aos meus atuais e aos meus futuros colegas.

Todos, ou quase todos, me conhecem há muitos anos e sabem bem o que eu penso sobre a nossa missão de servidores da causa pública, de inspetores e de polícias.

Todos nós – seja os que vão chegar à Polícia Judiciária, seja os que lá estão – devemos, a partir de agora, concentrarmo-nos em trabalhar num futuro bom para a instituição PJ e, sobretudo, para a investigação criminal e para a segurança do nosso país.
Bem sei que os novos tempos que vamos viver são delicados, já que nem os inspetores da PJ pediram 800 novos colegas a entrar-lhes pela porta dentro, nem os inspetores do SEF se queriam mudar em bloco para outra polícia.

Como já disse e escrevi noutras ocasiões, o importante é que, a partir agora, tudo corra bem!

Que todos – os que já estão na Polícia Judiciária e os que lá vão chegar – se empenhem em minimizar os desencaixes.

Que todos se empenhem em olear as dobradiças para que estas ranjam o menos possível.


Todos devemos ser inteligentes.

Todos devemos ser sensatos, criar pontes em vez de erguer muros.

Aliás, na PJ, a maioria dos inspetores, a começar pelo seu diretor Nacional, tem sido excecional nas diferentes fases deste processo.

Também a maioria dos meus colegas inspetores do SEF tem sido excecional nos anos difíceis que este processo já leva.


Apelo a todos que assim se mantenham!

Não sejam uns poucos – que infelizmente não têm a inteligência de perceber o essencial – a prejudicar o que tem tudo para correr bem.

Posto isto, pela minha parte, vou continuar a ser o que sempre fui: um inspetor do SEF, amanhã da PJ.

Termino hoje as minhas funções sindicais, agradecendo a todos os colegas que me elegeram a sua confiança em mim – e, também, a sua compreensão pelas minhas falhas e pelas minhas lacunas.

Obrigado, sobretudo, a todos os que fizeram comigo parte dos órgãos dirigentes e que me ajudaram sempre, que foram sempre corretos comigo, leais e amigos.

Obrigado a todos!


Foram 12 anos intensos de vida pública – mas acabaram.

Ao contrário de outros, não vou andar por aí!


Vou voltar ao meu lugar. É lá que vou continuar a servir o meu país.


Muito obrigado,

Acácio Pereira
Presidente do SCIF/SEF